Resumo: O deserto de Atacama está localizado entre a parte ocidental dos Andes centrais e a costa do Pacífico Sul, estende-se da fronteira sul do Perú (18 °S) até Copiapó, Chile (30 °S) (Rundell et al., 1991). É uma das mais antigas e inabitáveis localidades desérticas da Terra, abrangendo áreas sob condições semiáridas, áridas e hiperáridas (Dunai et al., 2005). A condição de aridez no deserto de Atacama é produzida, principalmente, pela localização subtropical e pelas frias águas da corrente de Humboldt que flui paralelamente à costa chilena e sul peruana. As baixas temperaturas das águas (~ 8 oC) impedem a evaporação deixando baixa a umidade relativa do ar e evitando assim as
precipitações nas áreas costeiras. A aridez em Atacama é intensificada pelo efeito de sombra orográfica (rain-shadow) dos Andes que bloqueia a transferência de humidade proveniente da bacia Amazônica (Houston and Hartley, 2003). As condições de aridez/semiaridez (≤ 50 mm chuva/ano) no deserto de Atacama prevalecem ao menos desde o início do período oligoceno (~ 30 Ma) (Dunai et al., 2005) até o final do cretáceo (Hartley et al., 2005). Porém, o início das atuais condições hiperáridas (≤ 5 mm) é motivo de controvérsia. Diversos estudos sugerem que a transição para as atuais
condições ocorreu entre 19-13 Ma impulsionada pelo levantamento simultâneo da superfície Andina durante o período mioceno médio. Outros estudos, entretanto, sugerem uma transição anterior (~ 25 Ma) ou posterior (~ 2–1 Ma) associada ao resfriamento global ou regional do oceano. Atualmente, são utilizados vários modelos climáticos para estudar o efeito da elevação da superfície andina e as mudanças da temperatura superficial do mar na hiperaridez do deserto de Atacama. Os trabalhos mostram que o aquecimento global da superfície do mar, assim como também a elevação da superfície andina não foram fatores importantes para o início da hiperaridez em Atacama, em contraste, um aquecimento regional sobre o sudeste do pacífico aumenta consideravelmente as precipitações em Atacama. Estes resultados sugerem que um reforço da corrente de Humboldt a partir do Mioceno tardio, em
particular durante a transição Plioceno/Pleistoceno foi essencial para as atuais
condições de hiperaridez (Garreaud et al., 2010). |